Ela já não conseguia dormir. Quase que rodopiava deitada naquela cama como se fosse uma bailarina de ballet. Ela apenas queria dormir. Sabia que tinha de acordar cedo, a sua irmã estaria às nove em ponto à porta da sua casa. Mas e aquelas memórias que lhe vagueavam pela cabeça? Ela implorava a essas memórias para a assombrarem depois de adormecer, nos seus sonhos mas não antes de adormecer, às três e meia da manhã. Ela apertou a sua almofada vezes sem conta à sua cabeça. Tonta, ainda acreditava que podia abafar a saudade com uma almofada.
Ela levantou-se, foi ao seu espelho e como se tivesse a falar consigo própria, disse: "Vais-me deixar dormir, descansar e parar de pensar nele. Deixa de ser maluca.". Atirou-se para a cama como quem se atira numa piscina. Nem sequer se preocupou se iria acordar os seus pais com tanto barulho. Embrulhou-se nos cobertores, tapou-se toda até às pontas do cabelo e tentou adormecer. Poucos minutos passaram para ela se sentir abafar. Olhou para o tecto. Olhou para a sua direita, e viu o livro que a acompanhava há pouco mais de uma semana em cima da mesinha, mas não lhe apetecia ler. Olhou para a sua esquerda, e viu o seu telemóvel a carregar. Sem pensar duas vezes, pegou nele. Procurou um número, alguém que pudesse estar acordado para falar com ela. Mas ela só queria falar com ele. Não lhe ia ligar aquela hora. Ele matava-a. Então começou a escrever uma mensagem. Ela sabia que ele iria ficar bem disposto de manhã cedo ao ver que em mais uma noite, ela queria a companhia dele. Acabou a mensagem dizendo: "Estou contigo em tudo, para tudo e contra tudo. Gosto bastante de ti meu menino lindo!". Virou-se para o outro lado e adormeceu de sorriso nos lábios.